O capítulo que fez nós nos apaixonarmos por... Harry Potter

A hora mais escura de Harry Potter também é a sua melhor hora.

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 Muito parecido com Alvo Dumbledore, é importante notar, primeiramente, que Harry Potter foi amado — por nós, e por você — bem antes de Harry Potter e as Relíquias da Morte. Ele é o herói das histórias, afinal: nossa janela para o mundo bruxo, o jovem que nós seguimos desde que era criança, com o qual nós crescemos juntos. Nós conhecemos Harry Potter, sabemos o tipo de pessoa que ele é. Ele é corajoso, leal, generoso — e ele é muito, muito intrometido. A esta altura do campeonato, no sétimo e último livro da saga de Harry Potter, o que possivelmente poderia nos surpreender?

 Como você sem dúvida se lembra, "De volta à floresta" é o capítulo onde tudo muda: o capítulo onde Harry, após saber a verdade das memórias de Severo Snape, tem que entrar de acordo com revelações perturbadoras. Snape era mesmo um agente duplo; o próprio Harry é uma Horcrux; Dumbledore sempre soube; a única maneira de derrotar Voldemort é Harry morrer — andar pra Floresta Proibida e permitir ser morto. Isso foi difícil pra ele.

 Ele sentiu o coração bater violentamente no peito. Como era estranho que, em seu temor da morte, ele bombeasse com mais força, mantendo-o vivo. Teria, porém, que parar, e em breve. Seus batimentos estavam contados. Para quantos haveria tempo, quando se pusesse de pé e atravessasse o castelo pela última vez, para sair aos jardins e penetrar na Floresta?
 — Harry Potter e as Relíquias da Morte

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2


 A saga de Harry Potter sempre foi, de uma maneira ou de outra, sobre a morte; explicitamente, sobre como lidamos com o luto e com a perda, menos explicitamente, como lidamos com a ideia da morte em si — como encaramos essa realidade. Isso não é nada de novo na ficção, é claro. Como um herói vence a morte, como eles tem poder pelo medo para salvar o dia, é o que os torna heróicos — uma condição que Harry havia encontrado várias vezes antes.

 O terror engolfou-o, ali deitado no chão, com aquele tambor fúnebre batendo em seu íntimo. Doeria morrer? Todas as vezes que julgara ter chegado a hora, e escapara, ele nunca realmente pensara na morte em si: sua vontade de viver sempre fora muito maior do que o seu medo de morrer.
 — Harry Potter e as Relíquias da Morte

 Mas isso é diferente. Porque uma coisa é encarar a morte e sair por cima, outra é se entregar de bom grado, sacrificar sua própria vida para que outros possam viver, andar, contra toda a natureza, à caminho de sua própria destruição. É um ato que requer, como J.K. Rowling escreveu, "um tipo diferente de bravura": um heroísmo que vai além de sabedoria e habilidade, e torna-se algo mais nobre, algo mais alto. Não é surpresa por que, por exemplo, sacrifício próprio interpreta uma parte tão grande na religião e mitologia.

 Isso não significa, entretanto, que Harry anda até a morte de bom grado. Sua jornada do castelo de Hogwarts até a Floresta é carregada de tristeza e medo. Sob a Capa da Invisibilidade, ele passa pelo massacre da Batalha de Hogwarts, cheio de amigos caídos e companheiros sofrendo. Ele diz para Neville que mate a cobra de Voldemort, para terminar o trabalho depois que ele se fosse; ele vai embora sem dizer adeus para Rony, Hermione ou Gina — eles só o desacelerariam.

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2


 Isso soa insensível, mas ele não podia arriscar que nada fizesse-o mudar de ideia. "Ele queria ser parado, ser arrastado de volta, ser mandado de volta pra casa", J.K. Rowling escreve, Ele já está assustado o suficiente. Dumbledore sabia que esse seria o caso. Essa é a razão pela qual, no meio do caminho para a Floresta, Harry encontra o suporte moral que ele precisa — as palavras de seus entes queridos falecidos, Sirius Black, Remo Lupin e sua mãe e seu pai, Lílian e Tiago. Convocados por meio da Pedra da Ressurreição de Dumbledore — escondida no Pomo de Ouro de Harry — eles o guiam para o fim.

 — Você está quase chegando — disse Tiago. — Muito perto. Estamos... tão orgulhosos de você.
 — Dói?
 A pergunta infantil escapara dos lábios de Harry antes que ele pudesse contê-la.
 — Morrer? Nem um pouco — respondeu Sirius. — Mais rápido e mais fácil do que adormecer.
 — Harry Potter e as Relíquias da Morte

 É adequado, de certa forma, que mesmo em sua hora final, Harry conta com o apoio de amigos, que é uma constante ao longo da saga. Mas, por fim, isso é algo que ele deveria enfrentar sozinho — o que, depois de alcançar seu destino, ele faz.

 Voldemort erguera a varinha. Sua cabeça ainda estava inclinada para um lado, como a de uma criança curiosa, imaginando o que aconteceria se ele prosseguisse. Harry encarou os olhos vermelhos e desejou que acontecesse naquele instante, rapidamente, enquanto ele ainda se mantinha de pé, antes que se descontrolasse, antes que traísse o seu medo...
 Ele viu a boca se mover e um clarão verde, e tudo desapareceu.
 — Harry Potter e as Relíquias da Morte

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 Ele poderia, é claro, ter fugido. Ele tinha uma Capa da Invisibilidade. Ele poderia ter decidido a qualquer momento que estar vivo era mais importante que qualquer coisa, e desaparecer no campo. Talvez alguns anos antes, ele teria feito isso; talvez só agora, depois de superar tanta coisa, que Harry se tornou o herói que o mundo bruxo precisava que ele fosse. Não, mais do que isso. "De volta à floresta" mostra Harry como mais do que um simples herói. Esse capítulo nos lembra exatamente quem ele é — o oposto de Lord Voldemort.

 Tudo volta pra morte, entende. Voldemort dedicou a maior parte da sua vida à evitar a morte. Literalmente nada pra ele é mais importante que sua própria vida. Ele realizou atos de um mal inigualável para preservar e estender sua vida. Ele é definido, inteiramente, por medo. Voldemort teria coragem de entrar naquela floresta? Teria coragem de dar sua vida por um bem maior? Não, porque, para Voldemort, não há nada maior do que ele mesmo. E isso, no final, é a sua ruína — e a força de Harry. Afinal, há uma razão pela qual Harry continuaria para se tornar o verdadeiro Mestre da Morte: um título que, segundo a própria J.K. Rowling, "não se trata de ambicionar a morte, mas sim aceitar a mortalidade".

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